sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Over my shoulder...




Esse peso que se fez de repente

Cortante e incomodo sobre os ombros

Vou demolindo os muros à frente

Amontoam-se sobre mim os escombros



Espólios das tantas lutas da vida

Que não cansam nem cessam de chegar

Se faz mister suportar a lida

Dobra-se o lombo sem se deixar quebrar



E pacato sigo sereno buscando não me abalar

Sem que agitem-me pequenas coisas

Bastam-me as grandes a me pesar



Deram-me ao nascer costas largas

Como que prevendo a carga futura

Te carrego sorrindo vida, por mais que sejas dura.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Um verso para um coração que berra.



Eu tenho um coração que berra
Que bate apesar do mundo
Empurrando a vida liquefeita entre as vêias
Berra por nada, grita por tudo
Nunca se engana, apenas erra
E errando nunca se cala, berra
Berra por mim, por você
Pelo que já foi e pelo que há de ser
Pelo que já viu e o que nunca há de ver
Grita a tua ausência, pede o teu prazer
Clama a tua presença, sente o teu querer
Vela o teu sono, pulsa em teu viver
Que berre em meu peito enquanto eu viver
Que faça escândalo, grite, salte, que não pare
Que não cesse a voz antes de eu morrer
Que me acorde sempre aos berros
Me chamando pra viver.

domingo, 23 de maio de 2010

Morena




Sento em frente ao mar
E me rendo à imensidão
Lanço um olhar ao seu limiar
E rogo a ele em oração

Que se renove meu caminhar
Que haja sempre nova canção
Dessas que fazem homem chorar
Por um amor, ou por seu torrão

Espumas brancas, ondas quebrar
São como nuvens que tocam o chão
Lambem areia, respigam o ar

Fazem do céu um grande borrão
É minha morena a rabiscar
Volta pra casa meu coração

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Intimidade



Ver-te andar com tanto zelo
Deslizando nua em pelo
Por todo quarto, desmazelo
Boca, seios, ancas, cabelo


És toda minha e já não temo
Poder tocar-te é dom supremo
Minha boca seca, calor extremo
Ferve meu corpo, eu ardo e queimo


Vens vindo sem pudor
Próprio de quem íntimo é
Das noites vividas em furor


Sobre os lençóis és revoltosa maré
Me abraças com teu fogo abrasador
Me olhas com teus olhos de mulher.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Aonde fomos parar?



Ficou esse gosto amargo
Metal entre os dentes
Fel no céu da boca
Ríspida a anunciada partida
O sapo ferve lento sem perceber
Fingi não acreditar
Nos prenúncios a tanto anunciados
Sempre achando que haveria tempo
Tempo é um luxo que não temos
Breve, o que é bom se finda
Como brigadeiro na colher de pau
Como no fim da pipoca, o sal
E assim de súbito a muito sabido
Fiquei eu aqui iludido
Acreditando no cessar do mal
Me abraço ao tempo perdido
Lembranças que não voltam mais
Fico preso a este cais
Esperando aportar tua nau
Andamos na mesma cidade
Nos mesmos lugares
Nos já não temos a mesma idade
Nem respiramos os mesmos ares
Como estranhos trocamos olhares
Incertos sobre o que se passa
Nos pensamentos um do outro
Seguimos estranhos e alheios
À vida de quem já foi um dia
O motivo de tanta alegria
Na vida um do outro
Onde foi para o amor?
As juras?
As ternuras?
Os agrados?
Os beijos?
Os abraços?
O toque?
A pele?
O meu amor?
O seu amor?
Aonde fomos parar?
Talvez não tenha havido
Nem sequer existido
Como os restos de uma civilização perdida
Que nunca foi achada
Quem nos vê nunca dirá
Nem sequer pode imaginar
O casal que já fomos um dia
Hoje tudo é medo
Insegurança
Apatia
Confesso tenho saudades
Daquilo que já fomos um dia

segunda-feira, 1 de março de 2010

Leito



Na impossibilidade da concretização dos afetos
Restam sonetos febris, calorosos e macios
Lugares onde a alma se aconchega e dorme
Esse é o colchao do poeta
Recheado com as etéreas plumas da paixão.

A paz que eu desejo



Tudo em você é suavidade
Do teu silêncio ao teu caminhar
Do teu sorriso ao teu olhar
Flutuas na tua brevidade

Teu universo sob teu dominar
Nada escapa da tua gravidade
A não ser essa temeridade
 Da tua fragilidade a se revelar

Doce e morna é tua presença
Leve brisa a soprar no mar
Renovando do meu peito o ar

Tudo em ti inspira o amar
Nos teus finos cabelos quero me enredar
Me perder de amor e nunca mais me achar