quarta-feira, 23 de maio de 2018


Poesia

A poesia não atende as multidões;
Não serve ao alarido e à balburdia;
Não se assenta junto aos ladrões;
Nem flerta com à estúrdia;

Ela se rende aos solitários;
Como uma amante vencida pelo toque;
Revela os mistérios dos glossários;
Tal qual à primavera em espoque;

Nas madrugas insones se derrama;
Sobre à alva folha que espera;
O verso perfeito, essa quimera;

Sonho de todo poeta;
É fazer da rima à chama;
Arder na alma, de quem o declama.









Soneto de oração.

É inevitável à tentação, eu reconheço;
Mas me abstenho, em sinal de gratidão;
Um pecado, não vale o Teu apreço;
Prefiro estar sob a Vossa proteção;

Que as sombras das Tuas asas,
Sejam refrigério na tribulação;
Derramai Senhor em nossas casas;
A misericórdia do Teu coração;

Que na pequenez do meu entendimento;
Tua palavra me mostre a direção;
E se eu me desviar por um momento;

Não Te afastes da minha mão;
Tende piedade, inclinais o ouvido;
E me conduz para a salvação.

Nós

No erro grasso de um abraço;
No afagar da minha mão;
Sem querer dei-te um laço;
Para amarrardes meu coração;

Antes tivesse percebido;
Esbravejado um sonoro não;
Quando vi já estava perdido;
No emaranhado da ilusão;

Cerra o beijo, abafa o grito,
Chora o mudo, cala o aflito;
O nó que amordaça a voz

Morre o sonho mais bonito;
Ouço passos, ao longe, no infinito;
É tua partida, o desatar de nós.