quarta-feira, 23 de maio de 2018


Poesia

A poesia não atende as multidões;
Não serve ao alarido e à balburdia;
Não se assenta junto aos ladrões;
Nem flerta com à estúrdia;

Ela se rende aos solitários;
Como uma amante vencida pelo toque;
Revela os mistérios dos glossários;
Tal qual à primavera em espoque;

Nas madrugas insones se derrama;
Sobre à alva folha que espera;
O verso perfeito, essa quimera;

Sonho de todo poeta;
É fazer da rima à chama;
Arder na alma, de quem o declama.









Soneto de oração.

É inevitável à tentação, eu reconheço;
Mas me abstenho, em sinal de gratidão;
Um pecado, não vale o Teu apreço;
Prefiro estar sob a Vossa proteção;

Que as sombras das Tuas asas,
Sejam refrigério na tribulação;
Derramai Senhor em nossas casas;
A misericórdia do Teu coração;

Que na pequenez do meu entendimento;
Tua palavra me mostre a direção;
E se eu me desviar por um momento;

Não Te afastes da minha mão;
Tende piedade, inclinais o ouvido;
E me conduz para a salvação.

Nós

No erro grasso de um abraço;
No afagar da minha mão;
Sem querer dei-te um laço;
Para amarrardes meu coração;

Antes tivesse percebido;
Esbravejado um sonoro não;
Quando vi já estava perdido;
No emaranhado da ilusão;

Cerra o beijo, abafa o grito,
Chora o mudo, cala o aflito;
O nó que amordaça a voz

Morre o sonho mais bonito;
Ouço passos, ao longe, no infinito;
É tua partida, o desatar de nós.









sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Apenas deixou de ser







Havia ainda a empatia;
Um misto de piedade e bem querer;
Um zelo para não fazer sofrer;
Um coração que por mim batia;

Essa chama que outrora ardia;
Já não pode mais aquecer;
Não se trata de apatia;
Apenas deixou de ser;

Nas cinzas do entardecer;
No apagar da luz do dia;
A saudade do que podia ser;
O amor que em mim morria;

Dois dentro de um já não cabia;
Não se trata de esquecer;
Apenas seguir já não podia;
Por aqui ficamos, eu e você.

quinta-feira, 29 de setembro de 2016



Nada a temer

Deste cálido alento que sussurra mudo;
De que mesmo a mais aguda dor se vai;
Na derradeira hora que é mistério;

Quando o concreto se desafaz no etéreo;
A alma, liberta do corpo que cai;
Mergulhando na imensidão do sono profundo;

Um doce consolo de não ter sido tudo;
Já não me pesam as coisas que não posso levar;
Apenas o que coube na brevidade de um instante;
Retratos tatuados no olhar;

Na efemeridade das coisas deste mundo;
No segundo que não se pode voltar;
Ficarei vivo apenas;
Nas almas que eu pude tocar.




terça-feira, 6 de maio de 2014

Bálsamo


Tu, que carregas meus sonhos no olhar
Guardando todas as promessas que fiz
Desse amor que venho agora encontrar 
Em tua negra retina, cercada de giz

São promessas, quero acreditar
Nas coisas que a tua pupila diz
Quando a vejo me ponho sonhar
Buscando um céu mais feliz

Me lanço, alvo pássaro ao mar
Ao sabor dos beijos juvenis 
A falta que faz o teu beijar
Me enlouquece em noites febris

Toca minha boca, me faz delirar
Que eu serei o que tu sempre quis
Escorre em meu corpo, vem me amar
Beija min´alma, cura a cicatriz.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Amor e paz

 
Sigo
Nessa paz que agora vivo
Inapartada do amor
Caminhando juntas
... Paixão não conhece a paz
O amor sim
Deitar numa rede a beira mar
Fim de tarde e o sol se põe
Languido...
Por entre os seios de dois morros quaisquer
É amor, e eu a me balançar
Na certeza que não vou cair
Sabendo que o mesmo sol nascerá
Para vê-lo depois se pôr
E o ciclo a não se acabar
É assim que te sinto em meu viver
O sol que me aquece
A rede a me balançar
Em teus seios eu me ponho
Languido...
No teu relevo de mulher
Escorro pelo teu corpo
O sol em minha boca
...Queimo
Lento como é próprio do amor
Chama que dura
Sou tua cura
És meu torpor
E sigo
Calmo, languido e quente
Suave e docemente
Nascendo e me pondo
Como o sol de todo dia
Certeza que se renova
Tal qual o nosso amor


quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Eu



Eu
Que me banhei em lágrimas
Eu …
Que despenquei dos mais altos montes
Eu
Que estive perto do céu
Para apenas despencar de novo
Que despertei do sonho
Que sufoquei em pesadelos
Que tantas vezes perdi
E me perdi tantas vezes
Eu
Que já estive tão só
Eu
Que de tão só quis morrer
Morrer de amor...eu
Eu
Das incontáveis despedidas
Eu
Das saudades inconsoláveis
Eu
Que já nem me lembro mais
Que sou feito de tantos ais
Eu
Esquecido e desprezado
Tantas vezes ignorado
Eu...
Que apesar de tudo
Mesmo calado, mudo
Eu...
Resisto
Eu
Que insisto
Que desafio a morte
Onde tantos sucumbem
Eu faço das agruras poesia
Eu...
Que dou vida à letra morta
Meu legado é este
A letra
Que resiste
Que se molda
Sem se quebrar
Eu meu amigo, sou a letra
Em minha poesia a se revelar
Eu...
Poema em construção
Sou carne, sangue e coração
Vicissitude que já não se encontra mais
Que espera morrer em paz
Na certeza de ter sido eu...


sexta-feira, 5 de julho de 2013

Desejo

 
 
 
 
Tú que me despertastes do sono do mundo
Eu que jazia sob um peito sem sonho
Rio de leito seco, sem água, tristonho
Me inundastes  num amor profundo
 
Na janela, os pássaros pousaram  pra ver
As folhas congelaram em sua descida
Nem as gotas de orvalho ousaram escorrer
Para testemunhar nascer em mim a vida
 
A vida prometida, estampada em tua retina
Refletindo  teus trejeitos de menina
Que me chamam e me convidam a te esperar
 
Sou o abraço suspenso na neblina
Sou a lingua em tua  carne feminina
Sou o beijo em tua boca a salivar

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Soneto do eterno amor

Bastou te ver naquele dia
Para meu peito saltar numa folia
Pulando numa louca melodia
Sacudir meu mundo, encher-me de alegria

Seus olhos tomaram-me de assalto
Sua boca confundiu meus sentidos
Pedi você a Deus lá no alto
Senhor, atendei os meus pedidos

Eu que não acreditava mais
Que já não ousava navegar
Ao te ver, me pus de novo a sonhar

Beijar tua boca, tocar tua pele
Percorrer teu corpo, deixar se revelar
Que sou o seu verdadeiro amor e vim para ficar

quarta-feira, 20 de março de 2013


Soneto do encontro

Até aqui nos trouxe o tempo
Por entre as horas fluidas passamos
Soltos como folhas ao vento
Bailarinos no espaço flutuamos

Os diferentes caminhos que tomamos
Foram marcados nesse firmamento
Um ao outro alheios ficamos
Até cumprir-se o destino em um momento

Da claridade que se fez do seu sorriso
Vi surgir a imensidão do paraíso
E o desejo de em seus braços me atirar

Gritar teu nome, extrapolar meu riso
Invadir teu mundo sem nenhum aviso
Beijar tua boca e simplesmente amar

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Devaneios 



Sou a soma dos dias
A espera das horas
Do futuro a revelia
A sombra do passado

A boca cerrada
No vazio da sala
No silêncio calada
Da noite que é cela

Olhar perdido
Horizonte de pedra
A cama que geme
A dor da partida

Um banho que leve
Teu cheiro me lave
A cândida alma
Que plana na espuma

Me perco na bruma
Me cega a neblina
Não vejo o caminho
Tropeço na esquina

Que torce a rua
E quebra seu braço
Desfaz-se a reta
No L do asfalto

O beco é escuro
Me cega os olhos
O preto da noite
Que desce do alto

A chuva não nasce
Da grávida nuvem
É parto infinito
Suspenso na face

A prece que sopro
Que a franja me assanha
E a jogo pro alto
Esperança tamanha

Que a nuvem dê cria
Rebento de água
Num berro se abra
E faça-se a luz

Um homem não chora
Posto que é manha
Aceita o castigo
Sorrindo apanha

Indiferente sigo
Como o poste da esquina
Ereto e luminoso
Alheio a tua rotina






terça-feira, 6 de novembro de 2012

Soneto da libertação





Enterro contigo a água
A pouca água que consegui verter
Negando aos olhos o direito de sofrer
Chorar por quem não vale a mágoa

Não derramarei meu pranto sobre ingratidão
Terra infértil onde nada pode nascer
Não me permito padecer
Por quem não vale a lamentação

Da partida não se fez vácuo ou solidão
Somente a paz do dever cumprido
De ter realizado a missão

Morre o que não deveria ter nascido
Sentimento impuro e fingido
Me liberto rumo à imensidão

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Árvore secular


Vejo-me no vale das árvores seculares
Estou parado, pequeno em meio as copas
Que me fitam com a certeza de que vou passar
E passando adubarei seus pés,
Com as sobras de minha finitude
Vejo-me no vale das árvores seculares
E da minha pequenez meus olhos fecho
Sinto em minhas veias a seiva borbulhar
E sigo verdejando nesse devaneio
Esse desejo, essa inveja infame
De me perpetuar secularmente entre elas
Varar o céu com meus ramos verdes, pontiagudos
E me apossar dos primeiros beijos do sol
Eu do meu alto cume secular, eu
Pleno, etéreo, árvore, raízes na terra, cabeça no céu
Que bebo das gotas do orvalho e da neblina faço véu
Eu bela árvore, cujo vento me balança em valsa
Árvore de frondosa sombra
Com meu tronco marcado por juras de amor
Que suportei os entalhes dos corações enamorados
Que se partiram como galhos quebrados
Tatuagens das promessas feitas em vão
Vejo posar sobre meus braços passarinhos
Que entre meus dedos tecem os seus ninhos
Ao fim da tarde sobre meu colo pousam a descansar
Quando eu morrer não quero ir para o céu
Que me plantem embaixo da terra
E se alguém chorar em minha partida
Reguem-me as lágrimas da despedida
Para que eu brote como árvore secular

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Soneto do raiar do dia




Meu coração em tons de cinza
Monocromático peito
Pálido e rarefeito
Mesmo cansado segue ainda

Perturbando o silêncio da noite
Com minha insônia arregalada
Devaneios que me ferem qual açoite
Prolongando a aflição da madrugada

Náufrago em meio a correnteza
Do mar da vida essa incerteza
Me afogo sobre a cama desforrada

Já não há nada e a escuridão me bebe
Que venha o dia e sua luz entregue
O sol raiando e a esperança revelada.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Ampulheta



Senta e chora o pranto
Derrama-o em qualquer canto
Faz verter teu desencanto
Chora tudo, um pouco mais e tanto.

Senta e chora o pranto
Que do teu choro se faz o canto
Que te valha lá em cima um santo
E te console seu sagrado manto

Senta e chora o pranto
Pois foi-se o tempo da tua mocidade
Onde sorvias os bens da tenra idade

Abraça-te esta senhora,  maturidade
Que enruga e mastiga tua vivacidade
Senta e chora o pranto


sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Ausência



Foi inútil o pranto derramado, em noites de agonia inesgotável
Inconfessável a dor, atada ao coração crispado
 Foi inútil o pranto derramado, sobras de um amor tão inefável
Lágrima indesejável, molhando meu peito empoeirado

Teu silêncio a ferir o meu ouvido, a outros não se faz audível
Segue batendo impassível, teu pobre coração envaidecido
Duro, inerte,empedernido, morrendo em um peito inabalável
Cai o pranto inevitável, sobre um copo de café e um pão dormido

A mesa posta com o pé partido, eterna espera de uma voz que clama
Uma carta, um telegrama, o tempo congelado e sem sentido
Sufoco meu grito reprimido, no silêncio embotado do pijama

Sento ao pé da cama, com meu olhar perdido
Mesmo no peito aturdido, se faz valer a chama
É alento do iludido lutar pelo que ama.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Espere pelo meu amor




Esse amor puro, inconfessável
Prisioneiro amordaçado ao peito
Amar-te assim será defeito?
Como pode ser impuro o inefável?

Não se explica nem se sabe como é feito
O amor essa fera indomável
Da minh´alma faz-se a cerne e o preceito
Aturdindo a minha fé inabalável

E desvairado sigo do meu jeito
Se te vejo o ar se torna rarefeito
São meus olhos aos seus olhos respirar

Tudo em você encerra o desejo perfeito
Ao ver-te ao longe sonhando me deleito
E espero o tempo certo para te amar.


quinta-feira, 29 de setembro de 2011

A puta



O copo a frente e o som que aqui se escuta
Senta-se ao meu lado sem ser convidada a puta
Envenena-me os ouvidos, qual um trago de sicuta
Obrigado e passar bem, siga com a sua luta
 
Me concentro no liquido a minha frente
E abstraio dissolvendo toda a gente
Menos ela em sua insistência absoluta
Tenta seduzir-me ferozmente a puta
 
No fundo dos seus olhos o desespero revelado
Da dignidade perdida em um trocado
Se faz mister resistir em sua labuta
 
Quase cedo não fosse o cheiro exalado
De mil homens em seu corpo empreguinado
Quem acha essa vida fácil, nunca precisou ser puta

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Sobras de mim





Envolto em silêncio e apatia
Sou apenas vácuo do que já fui um dia
Sepultado no que já não existe mais
Sou barco a vela amarrado ao cais

Sorriso pálido, desbotado e absorto
No espelho já não enxergo um rosto
Escuto gritos de loucura e agonia
Ecos do que outrora em mim morria

Hoje perambulo entre a sorte e a revelia
Desprovido de afeto e alegria
Navegante vendo o mar e preso ao porto

No prenúncio do fim, um alento, um conforto
De poder enterrar-se enfim o morto
Libertar a alma juntar-se a ventania.

Soneto fúnebre de um egoísta




Abraça-te enfim a morte
Terror de todo vivente
Certeza única que encerra a sorte
Nivelando toda essa gente

Jazendo sob sete palmos
O cessar de toda ambição
Sobre a cabeça lêem-se os salmos
No mármore do derradeiro chão

Nada levou do vil metal acumulado
Nem ele, nem que jaz ali ao lado.
Só um terno barato como companhia

Compadeço-me desse pobre coitado
O epitáfio o resume na lápide fria
“Partiu sem deixar saudades, aquele que não dividia”.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Viagem



Na véspera da tua partida fez-se o nada

Silêncio que violenta a calma

Impiedosa transpassa a espada

E fere mortalmente a alma



Prenúncios alardeados da jornada

Da tua viagem que é só de ida

Escorre por entre as mãos a vida

Some no horizonte a mulher amada



Restam pegadas, o chão, o pó

Vicissitude que se desfez

Sufoca-me a garganta o nó



Num estalo de loucura e Insensatez

Penso vê-la mais uma vez

É saudade, o regalo ofertado ao só

Eu não vim para ficar


Eu coleciono nuvens

Onde os homens ajuntam moedas

Eu não vim para ficar

Estou apenas de passagem



Sou um farol para os loucos

Que ainda vêem rosas no asfalto

Que são feitos de sonho

E recheados de ausência



Semente que não passa da promessa

Não cria raízes, frutos jamais vai dar

Estou apenas de passagem

Eu não vim pra ficar



No fundo dos meus olhos castanhos

Uma sombria expressão secular

Dos caminhos que não conheci

Das terras que não vou pisar



Teus caminhos sempre exatos

Destoam da arritmia dos meus passos

E a tua pisada objetiva

Fere meu ébrio caminhar



Diferimos na feitura da matéria

Eu de substância etérea

Você da que se pode contar



Se sabes que não pertenço ao seu mundo

Por quê me aprisionar?

Já falei que estou de passagem

Do seu lado não vou ficar

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Tormenta



Com velas desajustadas sigo

Por entre tormentas navego

Nas sobras da fé me apego

Cego e alheio ao perigo



Não vejo nem um palmo a frente

Perdido em meio a tanta gente

Entre lobos caminho inocente

Sou cordeiro morrendo docemente



Como um Cristo pregado na cruz

Um ingênuo adentrando um cabaré

Muito menino, pouco Jesus

Se faz mister ficar em pé.



Onde poucos estendem a mão

Onde o sim sucumbiu ao não

Onde morre insepulto meu coração.

Terra infértil, mundo cão

terça-feira, 16 de agosto de 2011

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Vestido de flor






Vestido de flor não vejo mais
Nem tão pouco a fita no cabelo
Doçura de um suave desapego
De uma ternura que ficou para trás.
Da pureza que foi perdida
Numa cama de um quarto qualquer
Virastes um dia mulher
Sem se quer ter sido menina.
Seguem perdidas rosas cálidas
Inebriadas em noites sem fim
Olhos turvos, faces pálidas
Manchadas de pecado e carmim.
Na boca as sobras, o amargor, o gosto ruim
De quem vaga a procura de amor
Despida sem seu vestido de flor.

Sorriso de menina




De certo apenas o vácuo 
Vazio preenchendo tudo
Me pego calado e mudo
Perdido junto ao teu retrato

Teu sorriso esmaecendo
Amarelando no papel 
Vai sumindo da memória
Lembranças daquele céu

Havia estrelas ainda lembro
Resta ainda uma certa brancura
Lutando contra vácuo, iluminando a amargura

De viver sempre a espera 
De um clarão que a tudo ilumina
E ver você voltando com teu sorriso de menina

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Asas




Te dou asas sei
Apenas para que voe
A distância que não escape aos olhos
Voa no céu da minha boca
Esse infinito
Plana no relevo do meu peito
Que encobre o que te aquece
 E pulsa
Flutua no meu mundo
Circunda os limites do meu corpo
Seja meu satélite
Minha lua gravitando ao redor
Nesse meu desejo louco e egoísta
De que eu nunca me torne menor
Para que não fujas às minhas fronteiras
Que meu espaço seja infinito aos teus olhos
Meu relevo interminável às tuas asas
E quando finito perceberes que sou
Que nunca percas o encanto
De me visitares mesmo a tudo tendo conhecido
E do seu vôo se faça percebido
Que mudo sempre para que não canses da viagem.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Por quê?




Para quê tantos por quês ?

Se não há respostas para tudo

Às vezes me pego mudo

Sem saber dos tantos porquês



Por que viver?

Por que amar?

Por que morrer?



Já não quero saber os porquês

Se não tenho respostas para tudo

Prefiro permanecer mudo

Escolho simplesmente viver.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Asas




Cálida lembrança
escapando pelo canto da memória
morna, quente, doce
inundando os pensamentos
momentos de tanto amor
e essa cor esmaecida pelo tempo
me traz alento saber que existiu
aquilo que outrora me fez sonhar
bato asas rumo ao infinito
buscando um céu, um tempo mais bonito
consolo de quem fica é poder sonhar.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Over my shoulder...




Esse peso que se fez de repente

Cortante e incomodo sobre os ombros

Vou demolindo os muros à frente

Amontoam-se sobre mim os escombros



Espólios das tantas lutas da vida

Que não cansam nem cessam de chegar

Se faz mister suportar a lida

Dobra-se o lombo sem se deixar quebrar



E pacato sigo sereno buscando não me abalar

Sem que agitem-me pequenas coisas

Bastam-me as grandes a me pesar



Deram-me ao nascer costas largas

Como que prevendo a carga futura

Te carrego sorrindo vida, por mais que sejas dura.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Um verso para um coração que berra.



Eu tenho um coração que berra
Que bate apesar do mundo
Empurrando a vida liquefeita entre as vêias
Berra por nada, grita por tudo
Nunca se engana, apenas erra
E errando nunca se cala, berra
Berra por mim, por você
Pelo que já foi e pelo que há de ser
Pelo que já viu e o que nunca há de ver
Grita a tua ausência, pede o teu prazer
Clama a tua presença, sente o teu querer
Vela o teu sono, pulsa em teu viver
Que berre em meu peito enquanto eu viver
Que faça escândalo, grite, salte, que não pare
Que não cesse a voz antes de eu morrer
Que me acorde sempre aos berros
Me chamando pra viver.

domingo, 23 de maio de 2010

Morena




Sento em frente ao mar
E me rendo à imensidão
Lanço um olhar ao seu limiar
E rogo a ele em oração

Que se renove meu caminhar
Que haja sempre nova canção
Dessas que fazem homem chorar
Por um amor, ou por seu torrão

Espumas brancas, ondas quebrar
São como nuvens que tocam o chão
Lambem areia, respigam o ar

Fazem do céu um grande borrão
É minha morena a rabiscar
Volta pra casa meu coração

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Intimidade



Ver-te andar com tanto zelo
Deslizando nua em pelo
Por todo quarto, desmazelo
Boca, seios, ancas, cabelo


És toda minha e já não temo
Poder tocar-te é dom supremo
Minha boca seca, calor extremo
Ferve meu corpo, eu ardo e queimo


Vens vindo sem pudor
Próprio de quem íntimo é
Das noites vividas em furor


Sobre os lençóis és revoltosa maré
Me abraças com teu fogo abrasador
Me olhas com teus olhos de mulher.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Aonde fomos parar?



Ficou esse gosto amargo
Metal entre os dentes
Fel no céu da boca
Ríspida a anunciada partida
O sapo ferve lento sem perceber
Fingi não acreditar
Nos prenúncios a tanto anunciados
Sempre achando que haveria tempo
Tempo é um luxo que não temos
Breve, o que é bom se finda
Como brigadeiro na colher de pau
Como no fim da pipoca, o sal
E assim de súbito a muito sabido
Fiquei eu aqui iludido
Acreditando no cessar do mal
Me abraço ao tempo perdido
Lembranças que não voltam mais
Fico preso a este cais
Esperando aportar tua nau
Andamos na mesma cidade
Nos mesmos lugares
Nos já não temos a mesma idade
Nem respiramos os mesmos ares
Como estranhos trocamos olhares
Incertos sobre o que se passa
Nos pensamentos um do outro
Seguimos estranhos e alheios
À vida de quem já foi um dia
O motivo de tanta alegria
Na vida um do outro
Onde foi para o amor?
As juras?
As ternuras?
Os agrados?
Os beijos?
Os abraços?
O toque?
A pele?
O meu amor?
O seu amor?
Aonde fomos parar?
Talvez não tenha havido
Nem sequer existido
Como os restos de uma civilização perdida
Que nunca foi achada
Quem nos vê nunca dirá
Nem sequer pode imaginar
O casal que já fomos um dia
Hoje tudo é medo
Insegurança
Apatia
Confesso tenho saudades
Daquilo que já fomos um dia

segunda-feira, 1 de março de 2010

Leito



Na impossibilidade da concretização dos afetos
Restam sonetos febris, calorosos e macios
Lugares onde a alma se aconchega e dorme
Esse é o colchao do poeta
Recheado com as etéreas plumas da paixão.

A paz que eu desejo



Tudo em você é suavidade
Do teu silêncio ao teu caminhar
Do teu sorriso ao teu olhar
Flutuas na tua brevidade

Teu universo sob teu dominar
Nada escapa da tua gravidade
A não ser essa temeridade
 Da tua fragilidade a se revelar

Doce e morna é tua presença
Leve brisa a soprar no mar
Renovando do meu peito o ar

Tudo em ti inspira o amar
Nos teus finos cabelos quero me enredar
Me perder de amor e nunca mais me achar

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Sigo...




Resta-me o som do mundo
E todas as coisas ao meu redor
Resta-me um desejo profundo
De que tudo se torne melhor

Sobram-me motivos e razões
Para acreditar sempre na vida
Embora haja ocasiões
Em que se deseje mais a partida

Meu rosto essa terra fértil
Onde brotam risadas e lástimas
Meu corpo inconstante e febril
Regado a suores e lágrimas

Forte é esse gosto metálico
Que paira no céu da boca
É vácuo do teu beijo cálido
Ausência da tua língua louca

E sigo em frente sem olhar pra traz
Com meu saco de sorrisos e histórias
Instantes tatuados na memória
De um homem em busca de paz.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Tempo





Dessa aspereza que nos tolhe
O que me sufoca e me encolhe
É o tempo e sua pressa

De me atropelar sempre que paro
Mesmo ferido procurando amparo
A sua engrenagem nunca cessa

Anda preso sempre ao meu braço
Nesse impiedoso compasso
Sem remorso não volta atrás

Se corre muito apresso o passo
Se lento anda é descompasso
Confiro a pilha não tenho paz

E escravo sigo nesse viver
Desesperado sempre a correr
Contra algo que não posso vencer

Não pude cultivar as flores
Nem sorver a plenitude dos amores
Que a vida em sua finitude me ofereceu

Dirão de mim "Esse coitado
Que viveu sempre apressado
Agora jaz aqui enterrado
 Mais um que o tempo venceu".

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Memórias




Às vezes penso nas coisas
Que podiam ter sido e não foram,
Perderam-se em algum lugar escondido
Somente na memória e no coração ficaram
Quietas em seus lugares, imóveis, empoeiradas
Às vezes as visito, tiro o pó
Às vezes me pego sorrindo, outras me vejo só
Momentos que queria ressuscitar
Trazer de volta a vida
Fechar a ferida
Poder tocar
Essa traquitana de lembranças
Amontoadas no meu pensar
Trazem-me a esperança
De novas memórias ganhar
Espero as mais felizes
Mas sei das cicatrizes
Que a vida há de deixar.