terça-feira, 29 de novembro de 2011

Soneto do raiar do dia




Meu coração em tons de cinza
Monocromático peito
Pálido e rarefeito
Mesmo cansado segue ainda

Perturbando o silêncio da noite
Com minha insônia arregalada
Devaneios que me ferem qual açoite
Prolongando a aflição da madrugada

Náufrago em meio a correnteza
Do mar da vida essa incerteza
Me afogo sobre a cama desforrada

Já não há nada e a escuridão me bebe
Que venha o dia e sua luz entregue
O sol raiando e a esperança revelada.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Ampulheta



Senta e chora o pranto
Derrama-o em qualquer canto
Faz verter teu desencanto
Chora tudo, um pouco mais e tanto.

Senta e chora o pranto
Que do teu choro se faz o canto
Que te valha lá em cima um santo
E te console seu sagrado manto

Senta e chora o pranto
Pois foi-se o tempo da tua mocidade
Onde sorvias os bens da tenra idade

Abraça-te esta senhora,  maturidade
Que enruga e mastiga tua vivacidade
Senta e chora o pranto


sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Ausência



Foi inútil o pranto derramado, em noites de agonia inesgotável
Inconfessável a dor, atada ao coração crispado
 Foi inútil o pranto derramado, sobras de um amor tão inefável
Lágrima indesejável, molhando meu peito empoeirado

Teu silêncio a ferir o meu ouvido, a outros não se faz audível
Segue batendo impassível, teu pobre coração envaidecido
Duro, inerte,empedernido, morrendo em um peito inabalável
Cai o pranto inevitável, sobre um copo de café e um pão dormido

A mesa posta com o pé partido, eterna espera de uma voz que clama
Uma carta, um telegrama, o tempo congelado e sem sentido
Sufoco meu grito reprimido, no silêncio embotado do pijama

Sento ao pé da cama, com meu olhar perdido
Mesmo no peito aturdido, se faz valer a chama
É alento do iludido lutar pelo que ama.