terça-feira, 13 de novembro de 2012

Devaneios 



Sou a soma dos dias
A espera das horas
Do futuro a revelia
A sombra do passado

A boca cerrada
No vazio da sala
No silêncio calada
Da noite que é cela

Olhar perdido
Horizonte de pedra
A cama que geme
A dor da partida

Um banho que leve
Teu cheiro me lave
A cândida alma
Que plana na espuma

Me perco na bruma
Me cega a neblina
Não vejo o caminho
Tropeço na esquina

Que torce a rua
E quebra seu braço
Desfaz-se a reta
No L do asfalto

O beco é escuro
Me cega os olhos
O preto da noite
Que desce do alto

A chuva não nasce
Da grávida nuvem
É parto infinito
Suspenso na face

A prece que sopro
Que a franja me assanha
E a jogo pro alto
Esperança tamanha

Que a nuvem dê cria
Rebento de água
Num berro se abra
E faça-se a luz

Um homem não chora
Posto que é manha
Aceita o castigo
Sorrindo apanha

Indiferente sigo
Como o poste da esquina
Ereto e luminoso
Alheio a tua rotina






terça-feira, 6 de novembro de 2012

Soneto da libertação





Enterro contigo a água
A pouca água que consegui verter
Negando aos olhos o direito de sofrer
Chorar por quem não vale a mágoa

Não derramarei meu pranto sobre ingratidão
Terra infértil onde nada pode nascer
Não me permito padecer
Por quem não vale a lamentação

Da partida não se fez vácuo ou solidão
Somente a paz do dever cumprido
De ter realizado a missão

Morre o que não deveria ter nascido
Sentimento impuro e fingido
Me liberto rumo à imensidão